quinta-feira, 9 de setembro de 2010

não há como entender nenhum dos movimentos musicais da música brasileira isoladamente. entre influências e desafetos na história da nossa música, bossa nova, tropicalismo e o iê iê iê, numa versão brasileira com a jovem guarda são conhecidos e propagadas até hoje. A bossa nova de certo modo, através da figura de joão gilberto por exemplo foi  influência da geração que formou os tropicalistas. Que diante do público aconteceram quase simultaneamente à turma de Roberto Carlos. Como o brasil de um modo geral,nossa música .. a formação de movimentos culturais formam um caleidoscópio de possibilidades. Nessa cultura tão ramificada, ampla e de dimensões tão imensas... será que realmente podemos falar de um tipo especifico de música que figure como brasileira por excelência? Será que podemos realmente ter o samba como um elemento unificante da cultura nacional?

uma noite em 67


sala de cinema. emoções de festival. uma noite em 67 revive, de certo modo, uma das noites mais lembradas da era dos festivais. com o primeiro lugar: Ponteio, com Edu Lobo e Marília Medaglia abrindo o documentário, a sensação e o som do público. manifestam mais que o espirito dos festivais.

uma parcela da história dificil de contar. a platéia a flor da pele, os sorrisos e reações de cada um que compôs ali uma página da história da música brasileira. a tranquilidade, o desespero, a emoção, a felicidade, a decepção, o anseio por uma reação no palco à realidade que rodeava o mundo ao redor daquele teatro. 

violão quebrado e alqué que canta "quem me dera agora eu tivesse a viola pra cantar". o marco da era dos festivais estava naquele palco, grande parte das músicas que marcaram o imaginário do periodo: "domingo no parque", "alegria, alegria", "roda-viva"... dentre tantas outras. 

tenho a impressão que, mesmo para quem não viveu o periodo, os festivais de música da década de 60, dando ênfase aos da Record, mas sem esquecer o FIC (festival internacional da canção) de 68, quando foram apresentadas "pra dizer que não falei das flores (caminhando)", de Geraldo Vandré e "Sabiá", de Tom Jobim e Chico Buarque,  se forma uma nostalgia, uma vontade de estar naquela platéia, de sentir aquela força, aquelas "contradições" dispostas no palco. 

"pra dizer que não falei das flores", de Geraldo Vandré, não marcou somente aqueles festival mas toda a movimentação estudantil de resistência não só da década de 60. 

naquele momento "Vandré cantou e o povo cantou com ele" (a era dos festivais, zuza homem de melo)
parece que eu ouço um grito ao fundo, uma vaia, um aplauso. aquelas reações inesperadas, que te deixam mais feliz ou que te frustam. quando se percebe quais informações e livros, músicas, filmes realmente chegam à maioria das pessoas. só me permito lembrar quantas coisas boas estão ainda inacessíveis, ou perdidas no, quase infinito, de uma rede que mais dispersa do que une (na minha humilde opinião, claro). com todas as facilidades parece que o conhecimento se dispersa, de tal modo, que a qualidade não é percebida, ou vista, ou lida. por que as pessoas não lêem poesia? porque lêem? resta perguntar porque o encanto da vida se perde no tumulto diário de estar em todos os lugares, de preencher cada um dos minutos do dia. sem encanto não há arte que resista. não há história incrivel que sustente. não há... força, nem vontade, nem disposição de se jogar às tentativas de construir coisas novas. a intenção é libertar o encantamento, preencher-se de liberdade, nutrir-se da vontade de lutar pela vida, pela esperança, pela coragem

|por mim e por outros|

sento em uma varanda imaginária pra folhear um livro desconhecido, daqueles que marcam e que, definitivamente, não preenchem as linhas das listas dos mais vendidos. um daqueles que não não estão nas páginas dos jornais, sem notas, sem falsas criticas ou apresentações. a primeira vista, a primeira luz, à poesia da primeira frase que se joga e condensa o espirito do dia, do que quer pra vida, do que quer fazer, escrever, ser. ando mais devagar pelas ruas da cidade, fones do ouvido, músicas que não tocam em rádio, que não passam na tv... sentindo no seu ritmo, sentindo no seu corpo cada nota, desconhecida pra quem só tentou aprender a tocar piano.

|aproxima o tom da voz| reconhece no sorriso| absorve|

ficou no meio do caminho desses trechos. com tanto pra conhecer. melhor não parar pra pensar na infinidade livros que quero ler, de músicas que quero ouvir, de filmes, imagens, lugares que quero ver. fico nos sonhos, no tempo que passa devagar. nos segundos preenchidos por linhas e notas.

|a vida no meio de tudo| com todas as suas peculiaridades e dispersões|

|o sonho alimentando o corpo| a pausa de tempo que conta em silêncio uma história de sons| o grito que condensa toda a força| a vaia que faz querer desistir| o aplauso que, mais alto, indica o caminho|