sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

escritor

A palavra escritor sempre me pareceu um tanto quanto distante, talvez porque ler e entrar em todos aqueles livros me fascinava tanto, que começar a escrever parecia de alguma forma uma ousadia da minha parte. Daquelas ousadias que alimentam a alma e quase o corpo. Sugam as emoções que transbordam em uma imaginação ainda em construção. Talvez nunca consiga dizer eu sou uma... Esse romance que envolve a palavra me deixa meio a mercê desse lugar privilegiado para onde são conduzidas algumas pessoas. Tenho medo, talvez. Medo de parecer clichê demais, de entregar demais dessa sensação que não sei de onde surgiu. Dom? Vocação? Desejo? Não sei onde se enquadra esse oficio. Esse que dá prazer e ao mesmo suga um pouco da alma, parece que quando escrevo, quando os dedos correm rápido, um pedaço de mim se entrega sem consulta, sem receio, sem cuidado. 

É como se me jogasse de um lugar alto sem saber por onde ir. Podendo voar, livre das pessoas, das convenções, do que qualquer um possa pensar e falar. É como estar vivendo tantas histórias, cada uma delas ocupando um pedacinho dessa mente estranha, isolada. Todas as coisas não ditas foram colocadas ali. Naquelas páginas que traduzem cada uma das sensações mais difíceis de aceitar e expor.  
Não se separa um livro, conto, crônica, poesia de seu escritor. É uma percepção ampliada, um conto imaginado como se você produzisse todos os personagens pra si. Você se vê neles, sente como eles. Sofre, ama, chora, ri. Todas as sensações se esboçam no seu rosto enquanto escreve. Pelo menos comigo acontece isso. 

Como se os pensamentos pulassem direto para o papel e você se encontrasse ali. Quase como se observasse à distância uma vida acontecer, aquela que poderia ser sua, aquela que te emociona, que te faz sentir medo. Todas as suas emoções são as suas personagens. Aquela que salta da janela acreditando ter asas, aquela que anda na areia da praia tão lentamente que a poderia até contar os grãos de areia em que toca. As Alices, Anitas, Lunas... São todas você. 

Com o desejo de liberdade enquadrado no quadro da sala, a menina decide sonhar mais alto. Talvez tenha passado tempo demais para inflar o coração de coração e mergulhar no sonho. Quem lhe contou? Quem lhe abriu os olhos? Um daqueles livros que lhe chega às mãos sem esperar. Um daqueles livros que sempre parecem falar dela. Ela que ficou trancando essas histórias em cadernos e páginas confidenciais, ela que nunca conseguiu usar a palavra escritora. Ela que metaforicamente tenta pular da janela mais alta. Indo em direção aquela liberdade que só escrever consegue lhe trazer. Talvez a escrita não precise dela. Mas ela não consegue esquecer que precisa respirar.  

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